25 de agosto de 2010

Sean Connery: 80 anos


De padeiro a sir. A trajetória de Thomas Connery, que o mundo conhece como Sean Connery, parece um sonho sobre como garoto pobre extrapola limites de classe, vira milionário, ganha reconhecimento internacional e, aos olhos do público, transforma-se num ícone. Tudo isso numa vida que se pode definir como longeva - Sir Sean Connery festeja hoje 80 anos. Como Clint Eastwood, outro ícone de virilidade, que completou 80 anos em 30 de maio, Connery torna-se octogenário sem exibir sinais aparentes de cansaço. Está "inteirão".

Ele nasceu em 25 de agosto de 1930 em Edimburgo, na Escócia. Já disse que não teria tido problemas em seguir sendo padeiro - e teria sido bom, garante -, mas agradece ao amigo que o convenceu, em 1953, a fazer um teste para ser chorus boy de Ao Sul do Pacífico. O musical de Rodgers e Hammerstein desembarcava em Londres após arrebentar na Broadway com sua história sobre marinheiros norte-americanos numa ilha do Pacífico, durante a 2ª Guerra. Connery foi aprovado - mais pela estampa, ele reconhece. Dois anos depois, estreou no cinema e, em 1957, participou de um bom filme, Na Rota do Inferno, de Cy Endfield, antes de ser vilão em A Maior Aventura de Tarzan, de John Guillermin, dois anos mais tarde.


A grande virada ocorreu em 1962, quando os produtores Harry Saltzman e Robert Broccoli, tendo adquirido os direitos de filmagem da série de livros de Ian Fleming, o contrataram para viver nas tela James Bond, o agente inglês cujo duplo zero - 007 - lhe dá licença para matar. Connery formatou o personagem ao longo de cinco filmes - O Satânico Doutor No, Moscou contra 007, 007 contra Goldfinger, 007 contra a Chantagem Atômica e Com 007 Só se Vive Duas Vezes. Depois, cansado de empunhar a pistola, tentou desertar da série, mas foi cooptado pelos produtores a voltar quando seu substituto, George Lazenby, não deu certo em 007 A Serviço Secreto de Sua Majestade.


Na verdade, o que o público não aprovara fora menos o ator do que a tentativa de humanizar o personagem. Bond voltou a ser transgressivo com Connery - violento, frio na hora de matar e sedutor com as mulheres - em 007, Os Diamantes São Eternos para salvar a série. E ele ainda retomou o papel numa produção independente, à margem da série oficial, no que talvez seja o melhor filme adaptado de Ian Fleming - Nunca Mais Outra Vez. O jovem que assiste hoje a esses filmes não tem ideia do que foi a revolução de 007. Os anos 1960 tornaram-se conhecidos como a década que mudou tudo. Minissaia, pílula, sexo livre. O cinema acompanhou as mudanças de comportamentos. O Código Hays, que disciplinava o uso da sexo e da violência em Hollywood, foi arquivado.


James Bond encarnou um dos paradigmas da mudança. O personagem nunca foi uma unanimidade, acusado de falocrata e violento, mas se beneficiou de um fã muito especial - o próprio presidente dos EUA, John Kennedy, notório mulherengo, alimentou as fantasias do público ao dizer que não havia leitura melhor para desanuviar as pressões do cargo. Só que Connery nunca quis ficar restrito ao papel e, antes mesmo de abandoná-lo, usou a popularidade que a série lhe proporcionava para participar de projetos artisticamente mais ambiciosos. Filmou com Alfred Hitchcock (Marnie, as Confissões de Uma Ladra), Irvin Kershner (Sublime Loucura), Sidney Lumet (A Colina dos Homens Perdidos), Martin Ritt (Ver-Te-Ei no Inferno), John Huston (O Homem Que Queria Ser Rei) e Richard Lester (Robin e Marian).


Nos anos 1980 reinventou-se como o monge detetive de O Nome da Rosa, que Jean-Jacques Annaud adaptou de Umb erto Eco, e Os Intocáveis, de Brian De Palma, que lhe valeu o Oscar de melhor ator coadjuvante. Só mesmo Hollywood - um dos maiores astros do cinema, um ícone e um grande ator - é premiado como coadjuvante enquanto outros, muito menos talentosos do que ele, ganham o Oscar principal. Ainda nos 80, fechou a década como pai de Harrison Ford em Indiana Jones e a Última Cruzada, de Steven Spielberg. Quem mais teria autoridade para chamar o herói de "Júnior"?


Homem político. Na vida pessoal, foi casado de 1962 a 73 com Diane Cilento e ela escreveu um livro, após a separação, contando como ele foi péssimo marido. Desde 1975, é casado com Michelline. É um homem político, apoiando, inclusive financeiramente, o Partido Nacional Escocês, que luta pela independência da Escócia. Seus opositores contestam o patriotismo com dedo acusador - para fugir aos impostos, Connery mora há décadas com a mulher em Nassau, nas Bahamas. Nos últimos anos, decepcionado com o sistema de Hollywood - mas também com a bilheteria magra de A Liga Extraordinária -, parou com o cinema. O projeto atual é um livro sobre sua vida. Sean Connery conta tudo. Terá de ser um volume alentado, para dar conta de uma trajetória tão complexa, com tantos encontros notáveis.


Balanço de vida

"Admito que me pagam muito bem, mas eu mereço. Afinal, nem as prostitutas, rodando bolsinha, foram mais abusadas do que eu na tela dos cinemas."

Fonte: Estadão

3 comentários:

Unknown disse...

Oi Marcia,

Bela homenagem ao grande Sean Connery.

Abraços

Sonia disse...

Eu gosto do Sean Connery. Nosso eterno James Bond. O melhor porque apesar de eu gostar muito do Roger Moore ...eu prefiro o Sean.
E vc poderia postar algo sobre a atriz Eva Marie Saint. Ela trabalhou no filme " Sindicato de ladrões" e por este filme ganhou o oscar de melhor atriz coadjuvante. Eu a vi no filme superman- o retorno e ela tá com 86 anos. Bem velhinha, né. Eu acho que ela merece uma homenagem no blog.

Marcia Moreira disse...

Peguei este texto no site do Estadão em homenagem a este ator escocês. Obrigada pelos comentários e M., não me esqueci de você não, viu?